www.worldoceansday.org/below-the-surface/2019-theme-conservation-focus
en.unesco.org/commemorations/oceansday
Mensagem da Diretora-Geral da UNESCO,
por ocasião do
Dia Mundial dos Oceanos
“Género e Oceanos”
Nos últimos dez anos, o Dia Mundial dos Oceanos tem-nos oferecido a oportunidade de
sensibilizar o público para a importância dos nossos oceanos, e sublinhar a nossa
responsabilidade individual e coletiva na utilização sustentável e na preservação do
maior ecossistema do nosso planeta.
Os oceanos são um dos requisitos indispensáveis para a existência de vida na Terra.
Fonte de água doce, produzem a metade do oxigénio que respiramos e exercem uma
poderosa influência sobre o nosso clima. Ora, os oceanos estão ameaçados. O
aquecimento climático, a acidificação, a poluição, as zonas mortas, a proliferação de
algas nocivas e a degradação dos ecossistemas revelam a forma como a atividade
humana tem impacto nos nossos oceanos.
De acordo com o primeiro Relatório de Avaliação Mundial sobre a Biodiversidade,
elaborado pela Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre
Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES), lançado na UNESCO a 6 de maio, a poluição
de plástico nos oceanos é um problema particularmente premente uma vez que foi
multiplicada por dez, desde 1980. Os resíduos plásticos provocam, todos os anos, a
morte de mais de um milhão de aves marinhas e 100 000 mamíferos marinhos.
Esta situação deveria impelir-nos à união em prol da preservação do nosso património
ambiental comum. Deveria levar a humanidade a entender o quão importante é
mantermos o Oceano são, do qual depende a nossa vida, assim como o clima, o nosso
bem-estar e, mais que tudo, o nosso futuro. As ameaças que pesam sobre os oceanos
exigem uma ação coletiva e urgente para inverter a tendência atual. Por este motivo, a
Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Década das Nações Unidas para as
Ciências Oceânicas ao serviço do Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), cuja
preparação está a cargo da COI - Comissão Oceanográfica Intergovernamental da
UNESCO.
Esta Década visa promover a colaboração científica internacional, assim como a gestão
sustentável dos nossos oceanos e das nossas zonas costeiras, através da interação
entre as ciências e políticas diversas. Visa igualmente mobilizar os cidadãos de todas
as culturas e de todos os povos, além das clivagens de género e de gerações, em prol
da preservação dos oceanos, pois disso depende a sobrevivência da nossa espécie.
Como afirma Sylvia Earle, mulher pioneira no domínio das ciências oceânicas, temos
que cuidar do Oceano - como se dele dependesse a nossa vida – porque de facto ela
depende dele.
Temos que proporcionar a cada cidadão os meios para cuidar dos nossos oceanos, e
permitir que todas as mulheres desempenhem um papel transformador e ambicioso na
compreensão, exploração, proteção e gestão sustentável do Oceano. Por esse motivo,
esta edição especial do Dia Mundial dos Oceanos faz a ligação entre os temas da
igualdade de género e da preservação dos oceanos.
As mulheres participam em todos as vertentes da nossa interação com os oceanos,
desde a pesca até à conservação; contudo, as suas vozes raramente são ouvidas ao
nível da tomada de decisão.
Do domínio da indústria marítima ao das ciências oceânicas, a desigualdade de género
persiste. O Relatório Mundial sobre a Ciência Oceânica da Comissão Oceanográfica
Intergovernamental da UNESCO salienta que as mulheres representam apenas 38% de
todos os cientistas nesta área. As mulheres representam 50% dos efetivos das
indústrias e serviços marítimos e costeiros, mas os seus salários continuam a ser
inferiores aos dos homens.
Se quisermos reequilibrar a trajetória da humanidade e fomentar soluções inovadoras
para os nossos oceanos, temos que garantir a diversidade e a inclusão dos géneros a
todos os níveis.
Os oceanos não representam apenas um campo de ação cada vez mais determinante
para se alcançar a igualdade de género, representam também a construção de uma
sociedade mais equitativa, em termos de género, pressupõem ainda a capacitação das
mulheres e das raparigas para que possam ser protagonistas de uma mudança benéfica
em prol dos oceanos, como tão bem referiu Sylvia Earle, que soube lutar
incessantemente contra a discriminação para contribuir para as ciências oceânicas e
para a sensibilização do público para os oceanos.
Integrar a igualdade de género em todos os níveis da Década para as Ciência Oceânica
contribuirá para que, até 2030, as mulheres desempenhem, à semelhança dos homens,
um papel preponderante nas ciências oceânicas e na gestão dos oceanos, para que
possamos beneficiar dos oceanos de que precisamos para um futuro próspero,
sustentável e seguro do ponto de vista ambiental.
Audrey Azoulay